Áudio Mundo 01: Análise da Letra da música Infinita Highway dos Engenheiros do Havaí tendo como plano de fundo o American Way of Life




        Desejamos através do Áudio mundo analisar letras de músicas que se refiram de alguma maneira a temas que enfoquem as relações internacionais ou temáticas  como a globalização, o capitalismo, as empresas transnacionais, os conflitos humanos, a cooperação internacional , direitos humanos, o nacionalismo, o mercado financeiro global, a desigualdade social ou possam representar  um país de maneira significativa num momento histórico particular ,e portanto que criaram repercussões no sistema internacional, e consequentemente na música.
          Se você tem alguma sugestão de músicas que possam representar aspectos da  ciência das relações internacionais, por favor comente no post, e ela talvez possa ser a próxima música a ser analisada no Áudio mundo.
           Neste post, farei breves comentários sobre a música "Infinita Highway" dos Engenheiros do Havaí ,uma das bandas mais expressivas do rock pop nacional,  uma canção  que permite pensar diferentes elementos como as  grandes auto-estradas americanas, o capitalismo, sentimentos antagônicos do  American Way of Life  e diferentes perspectivas  a respeito da vida humana.
           Obviamente, qualquer canção ou arte é plurissignificativa e não pretendemos abordar as meandros abissais desta  música ou qualquer outra composição, pois muito da interpretação de uma obra de arte depende de critérios subjetivos como as  experiências de vida de cada individuo, somente  faremos uma breve análise de algumas questões.
          A música pode ser ouvida fazendo um cadastro  no Spotify, o maior site de streaming de músicas do mundo  e utilizando seus buscadores para encontrar a canção:
https://www.spotify.com/br/

Ou acessando o site do Youtube, e procurando pela música:

https://www.youtube.com/watch?v=uhMa7S0B7e0

A letra da música pode ser encontrada no site das letras de música:
https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/12889/
A música Infinita Highway
            De acordo com o jornal Zero hora em entrevista ao jornalista Fernando Côrrea , o músico Humberto Gessinger expôs que a música pode ser entendida como um metáfora para a "Estrada da Vida":
"Me chama atenção por que diabos usei a palavra "highway". Acho que minha highway é mais vinculada à (música) Estrada da Vida, de Milionário e José Rico, e à nossa Freeway de ir à praia, do que à highway mitológica dos americanos – analisa Gessinger" (CORRÊA, 2013)
          Embora, a visão de Humberto Gissinger descreva muito a importância de se entender a canção também num contexto nacional o que é bastante enriquecedor , é muito difícil não referência-la a visão simbólica do termo estrada contido no imaginário mundial , e posição que a Highway (as auto-estradas americanas) ocupam no inconsciente coletivo. Quanto de nós, não nos deparamos com filmes Road movies no qual personagens enfrentam os perigos de uma viagem insólita na auto-estrada americana, filmes como  Pequena Miss Sunshine, Thelma e Louise, E sua Mãe Também, Logan, no caso sul-americano também podemos citar bons exemplos como o filme Diários de motocicleta, de 2004, do diretor Walter Salles. Também não podemos deixar de esquecer a influência que o livro On the Road  de 1957 escrito por Jack Keroauc teve nas gerações vindouras como a geração Beatnik dos anos 60, e a própria música faz uma pequena referência.
          E também não podemos de deixar de pensar  em grandes auto-estradas no mundo  e não imaginarmos  a Route 66 (Rota 66) de enorme extensão e diversas paradas nos EUA, A Route 66 é uma grande estrada norte-americana que corta grande  parte dos Estados norte-americanos  construída na década de 30, sendo destacada em diversos filmes que procuravam mostrar o sentimento de liberdade e o American Way of Life.
Vamos a letra da canção:
Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar
          Nesta primeira parte  o eu-lirico da canção promove a ideia de uma grande estrada que converge com a ideia do caminho que todos nós trilhamos na nossa curta existência na terra, recorda-nos os riscos que a vida pode trazer, faz referência  a possibilidade de ver um horizonte, provavelmente se referindo ao futuro  que é incerto e a um caminho de imensas possibilidades.Também coloca a ideia de deserto um termo que  evoca solidão que podemos enfrentar nesta vida, embora o eu lirico descreva que se tivermos uma paixão o tempo pode correr mais rápido para nossa percepção de realidade .Sobre o deserto podemos evocar a ideia de individualidade que é reforçada na ideia de "Estamos só e nenhum de nós.Sabe exatamente onde vai parar" ,ou seja, cada individuo tem uma experiência única na vida que não é similar a de nenhum outro ser vivo, se levado a interpretação extrema pode indicar uma relação com o existencialismo e com o  AteísmoO eu lirico irá apontar implicitamente a temática da morte, pois é o final natural da vida.
           O eu-lirico da canção não fala sobre uma espiritualidade especifica, mas o tema do caminho da existência humana tende a questionar o posicionamento do homem frente ao universo e seu destino final frente a sua mortalidade, como recorda O livro dos Símbolos:
(...).Esse caminho simbólico pode ser uma ideia religiosa ou prática como o Caminho Óctuplo do budismo ou o Taos de Laotzu <<uma força orientadora natural que conduz todas as coisas até a sua realização>>(Smith,1053) ou poderá ser expresso por Jesus, <<Eu sou o caminho, a verdade, e a vida>>(João, 14:6). <<A palavra "via"significa ao mesmo tempo estrada e metódo...a visão cristã para o céu é da de "seguir Cristo", com uma imagem dupla de seguir  as suas pegadas e aceitar sua mensagem >>(MM 16:2145) (RONNBERG et all, 2012:454)
Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Da infinita highway
          Aqui o eu lirico parece apontar que o sentido da própria existência é existir << Não precisamos saber para onde vamos. Nós só precisamos ir" Também evoca o sentido de liberdade na auto-estrada em que favorece a vontade por novas descobertas e de explorar o desconhecido. Há  uma critica ao capitalismo em <<Nós só precisamos ir. Não queremos ter o que não temos. Nós só queremos viver" .Aliás ,se por uma lado o eu-lirico numa interpretação válida poderia valorizar os ideais de liberdade presentes no American Way of Life que promovem a ideia do direito à vida, à liberdade e a busca por felicidade como direitos inalienáveis do ser humano ,por outro lado o eu-lirico é contrário ao consumismo excessivo que traz diversos problemas para a humanidade . Quantas vezes não somos bombardeados por uma miríade de propagandas de coisas que não precisamos. "Não queremos ter o que não temos. Nós só queremos viver" Aqui também há um questionamento bastante válido entre um tema principal da vida entre o "ter" e o "ser".A música fortalece a ideia que ser é muito mais importante do que se ter algo.
           Na expressão "Nós só queremos viver.Sem motivos, sem objetivos.Estamos vivos e isto é tudo. É sobre tudo a lei. Da infinita highway".Esta passagem pode dialogar filosoficamente com um trecho do poema de Fernando Pessoa "Navegar é preciso. Viver não é preciso", numa interpretação possível o poeta português queria dizer que Navegar é uma ciência precisa, mais a vida não é uma ciência precisa", da mesma maneira , o eu-lirico da composição parece fortalecer as vicissitudes da vida e  apenas deseja alienar suas preocupações materiais e desfrutar sua existência, não adiantaria fazer planos para o futuro pois eles poderiam ser defeitos, tal perspectiva lembra um pouco a filosofia epicurista que prega  que devemos desfrutar a vida com predominância dos  aspectos intelectuais  do que dos aspectos materiais, mas que devemos desfrutar a vida em plenitude.
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo desta estrada
Olhe só! Veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E, à noite, eu acordava banhado em suor
          Geralmente quando vivemos por muito tempo num ambiente criamos a rotina e a sensação de segurança ,e então  teremos medo de novas experiências, enfrentar novos ambientes ou desafios, o que evocado pelo eu lirico. "Quando eu vivia e morria na cidade.Eu não tinha nada,nada a temar. Mas eu tinha medo, medo desta estrada. Olhe só. Veja você" .Se observamos como uma estrada real,  poderá estar tendo medo da extensão do própria trajeto e dos perigos desta estrada que provavelmente já matou outros viajantes.Também vemos a satisfação do eu-lirico com a situação que se encontrava com uma vida confortável na cidade, mas não era suficiente para suas ambições. Podemos olhar esta imagem como uma experiência de alguém que vive em uma cidade,mas precisa viajar para outro país para crescer profissionalmente ou enfrentar a vida em uma cidade maior para conquistar seu sucesso pessoal.E logo, enfrentar a estrada.
Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway
            Nesta passagem, o eu lirico que viver sua vida de maneira plena, não quer que  os outros o  ensinem com conselhos que podem não servir ao seu caso, quer aprender vivendo experiências únicas  durante sua jornada .Mas uma vez parece ser inclinado a valores como a liberdade do individuo e a busca pela felicidade.
Escute garota, o vento canta uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão
Me diga, garota: Será a estrada uma prisão?
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como viver
            Neste trecho, o eu-lirico parece traçar a existência de vários pontos de vista sobre a vida.A garota que ama na canção parece ter uma opinião diferente sobre a vida,se a vida seria determinada,acreditando  na figura do destino o que para o eu-lirico seria "estar em uma prisão", ou se a vida seria definida pelo livre-arbítrio , assim pelas nossas escolhas pessoais.Tal perspectiva parece fazer uma contraposição entre a ideia de  uma única vida ou viver em outro plano ao morrer Devemos viver como se não tivermos outra vida, ou devemos viver como a realidade fosse uma passagem para uma nova realidade, o que esbarraria na filosofia existencialista .O eu-lirico não quer viver como um agente passivo dos acontecimentos  da vida, quer agir para mudar sua realidade.
           Já expressão, "Tudo bem,garota, não adianta mesmo ser livre.Se tanta gente vive sem ter como viver".O eu-lirico parece ter a conclusão que é contrário aos defeitos do American Way fo Life , em viver num mundo que as liberdades individuais sejam fortemente respeitadas, mas não ajam as mesmas garantias para as liberdades sociais o que pode ser visto como uma critica ao sistema capitalista em geral e as desigualdades sociais .Na discografia dos Engenheiros do Havaí,veremos que este tema se repete reforçando o papel da luta contra a desigualdade e contra alguns dos efeitos nocivos do capitalismo.
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos sem motivos
Que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte
Dessa highway
Silenciosa highway
              No trecho acima , o eu-lirico parece repetir suas perguntas filosóficas centrais, e indicar que nenhum ser humano sabe exatamente seu futuro, as pessoas que conhecerá ou o que irá acontecer.O futuro também não é totalmente indeterminado, aparece alguns indicações que pode ser vistas "nas estrelinhas do horizonte",mas que são muito difíceis de serem descobertas, aqui notamos "o efeito borboleta" de alguns de nossas ações que repercutem de uma maneira que não prevemos, e fazem parte da nossa vida.
Eu vejo um horizonte trêmulo
Eu tenho os olhos úmidos
Eu posso estar completamente enganado, posso estar correndo pro lado errado
Mas A dúvida é o preço da pureza, e é inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo
Não corra, Não morra, Não fume
Eu vejo as placas cortando o horizonte, elas parecem facas de dois gumes

           No trecho acima , o eu-lirico consegue ver o futuro de maneira trêmula, ainda não definido, num complexo imenso de possibilidades, o eu-lirico se pergunta se estar indo no caminho correto, se suas ações vão resultar naquilo que esperava alcançar como seu destino final.Mas é apenas com o resultado do  trabalho, e perseverando que se pode obter algo concreto no futuro.Observamos a própria história do Humberto Gissinger e dos Engenheiros do Havaí, pois não sabiam se deviam desistir de seguir a arquitetura ou seguir a vida como músicos.O eu-lirico observa diversas recomendações dos outros, mas ele não sabe se deve segui-las, ou seguir seu próprio caminho.O trecho "Eu vejo as placas cortando o horizonte, elas parecem facas de dois gumes" parece se referir as decisões que tomamos, inclusive placas que cortam os horizontes podem se referir a conselhos sobre o futuro que aceitamos ou não trilhar.

Minha vida é tão confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato
Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle, um beatnik
Ou um bitolado
Mas eu não sou ator, eu não tô à toa do teu lado
Por isso, garota, façamos um pacto
De não usar a highway pra causar impacto
            A politica internacional na América Central estava muito confusa, haviam muito guerrilheiros lutando em conflito armados desde da década 60, pois se estava em  plena Guerra Fria numa luta intensa entre EUA e URSS, em países como Nicarágua, Guatemala, El salvador e Honduras, explodiam conflitos armados, muitos desses estados eram  liderados por ditaduras militares que iam de encontro aos interesses dos Estados Unidos que defendem um ordem liberal para o Mundo . Aqui como a política na América Central a música fica propositalmente mais confusa, pois o eu-lirico coloca o conflitos existente entre diversas ideologias, entre agitações da cultura pop que espalhavam ideias de pacifismo e a politica conflituosa da Guerra Fria.
Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo
Um chiclet de menta
E a sombra do sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway
Infinita Highway
          O trecho tenta imitar um carro acelerando, e desta maneira,indo embora, pois a música está acabando. E o eu lirico aponta que em alguns momentos da vida é necessário ter um existência mais intensa, para se sentir que se viveu,aproveitando os momentos intensos.
          No trecho  "Na boca, em vez de um beijo.Um chiclet de menta.E a sombra do sorriso que deixei. Numas das curvas da highway.Infinita Highway." Faz uma comparação entre  uma longa estrada em que visitamos muitos pontos e deixamos pessoas que amamos em determinados lugares,ou que podem acidentes fatais e perdermos pessoas queridas ,e  assim é na vida, as ocupações do cotidiano podemo deixar  pessoas que amamos longe de nosso convívio social, ou então elas podem morrer, nos deixando apenas  recordações.
Fontes:
1-http://www.rascunhocomcafe.com/2016/07/analise-da-musica-infinita-highway.html#.WU_Nx85yvQo
2-http://rebobinandomemoria.blogspot.com.br/2014/11/analisando-letra-infinita-highway.html
3-http://analisedeletras.com.br/engenheiros-do-hawaii/infinita-highway/
4.CORRÊA, Fernando.Humberto Gessinger fala sobre a letra de "Infinita Highway" para Zero Hora.Zero Hora entretenimento.21 de maio de 2013.Disponível em:<.http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2013/05/humberto-gessinger-fala-sobre-a-letra-de-infinita-highway-para-zero-hora-4144283.html>. Acesso em: 25 de junho de 2017.
5.https://pt.wikipedia.org/wiki/U.S._Route_66
6.RONNBERG, Ami (Chefe de redação) et All.O Livro dos Símbolos: Reflexões sobre Imagens Arquetípicas. Hohenzollennring:Editora TASCHEN, 2012.





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